Os dias 19, 20 e 21 de setembro serão marcados na UFSC por uma série de atividades em comemoração ao 38 aniversário da independência de Guiné Bissau, país ocidental da costa da África. Durante esses três dias acontecem debates, conferências, projeção de filme e festa, tudo promovido por estudantes da Guiné Bissau que estão no Brasil.

O território do que hoje é conhecido como Guiné Bissau fazia parte do lendário império Mali (1230 a 1600), espaço de vida rica e suntuosa que se estendeu por grande parte da África Ocidental, sendo importante centro comercial e político. Ali conviviam os povos balantas, fulas e mandingas, entre outros. Mas, tal e qual as gentes da América Latina eles também acabaram sendo invadidos pelos portugueses que, em 1558, fundaram a primeira vila de colonizadores na região. Esse aglomerado existia basicamente com o interesse de capturar pessoas para serem vendidas como escravas. Com o passar do tempo, como o comércio de escravos passou a ser extremamente lucrativo, também a França e a Inglaterra começaram a disputar o território e a Guiné só ficou oficialmente como colônia de Portugal quando em 1880 as potências européias esquadrinharam um mapa colonial no território africano, fazendo a repartição de terras que tanto mal tem causado ao continente.



Quando no final do século 19 os ingleses decidem que não haveria mais tráfico de escravos, a colônia portuguesa volta-se para a agricultura e vai invadindo também o interior do país, vencendo as resistências na ponta do fuzil. Imperava a miséria, o trabalho forçado e a opressão, mas nunca sem luta. A resistência só começou a se fortalecer nos ano 50 sob a liderança do grande Amílcar Cabral, um dos fundadores do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde. A luta era para se dar no campo institucional, mas quando uma greve de estivadores acabou em massacre no ano de 1959, o PAIGC decidiu aderir à luta armada contra o regime de Portugal. Aquele era um tempo de efervescência no mundo e com a ajuda substancial de Cuba a Guiné declara sua independência de forma unilateral em 1973. Amilcar Cabral já tinha sido assassinado, mas o povo se mantinha em luta. Finalmente, também Portugal vive sua hora histórica com a Revolução dos Cravos em 1974 e, assim, o novo governo reconhece a independência da antiga colônia.

Em 1980, quando a Assembléia Nacional aprovava uma nova Constituição e deliberava pela unificação com a vizinha Cabo Verde, o antigo comandante das forças armadas, Nino Vieira dá um golpe, derrota Luis Cabral (irmão de Amilcar), suspende a Constituição e instala um Conselho da Revolução, o qual encabeça, vindo a desvirtuar bastante todo o ideário que conduziu à libertação. Nino governa como chefe do Conselho até 1989 quando então começa uma abertura no regime permitindo novos partidos e sindicatos. Em 1994 ele se elege presidente nas primeiras eleições gerais, mas em 1998 é derrubado por um novo golpe de estado que mergulha o país numa guerra civil. Vários dirigentes se sucedem, assim como também novos golpes, mortes e atrocidades, até que Nino Vieira volta à presidência em 2005. Em 2009, depois do assassinato de um desafeto político, Nino Vieira também é assassinado dentro do palácio presidencial. De novo, o país fica a mercê da violência.
Meses depois acontecem novas eleições vencidas por Malam Bacai Sanhá que governa num clima de muita intranqüilidade, sem conseguir vencer a endêmica pobreza a qual o povo da Guiné estava e está submetido. A instabilidade segue bastante grande e tanto que em abril de 2010, uma nova tentativa de golpe aconteceu, mas sem sucesso.
Hoje a Guiné Bissau está entre os 20 países mais pobres do mundo e depende apenas de sua agricultura e da pesca. Recebe ajuda do FMI e segue o seu receituário, tanto que em 2010 o país cresceu 3,5%, alavancado pelo excelente preço da castanha de caju. Também produz petróleo, o que pode ser sua salvação e sua ruína.
Mas, a maior riqueza do país é, sem dúvida, o seu povo, que mantém vivo o sonho de um país livre das dificuldades e se expressa numa rica cultura musical e também no originalíssimo carnaval. Apesar de uma história de guerra e tragédias, a alegria é um motor que move a gente da Guiné Bissau no rumo de uma verdadeira libertação.



O irmão de Amílcar Cabral, Luís de Almeida Cabral, foi empossado como o primeiro presidente da República da Guiné-Bissau. Instituiu-se um governo de partido único de orientação marxista controlado pelo PAIGC e favorável à fusão com a também ex-colónia de Cabo Verde. O governo de Luís Cabral enfrentou sérias dificuldades que chegaram a provocar a escassez de alimentos no país. Luís Cabral foi deposto em 1980 por um golpe militar liderado pelo general João Bernardo Vieira, chefe de altos quadros do PAIGC. Com o golpe, a ala cabo-verdiana do PAIGC se separa da ala guineense do partido, o que faz malograr o plano de fusão política entre Guiné-Bissau e Cabo Verde. Ambos os países romperam relações, que somente seriam reatadas em 1982.
O país foi controlado por um conselho revolucionário até 1984, ano em que Guiné-Bissau ganhou sua actual Constituição. Nesse período, todas as alas de extrema-esquerda do PAIGC foram dissolvidas.
A transição democrática iniciou-se em 1990. Em maio de 1991, o PAIGC deixou de ser o partido único com a adoção do pluripartidarismo. As primeiras eleições multipartidárias tiveram lugar em 1994. Na ocasião, o PAIGC obteve maioria na Assembléia Nacional Popular e João Bernardo Vieira foi eleito presidente da República.
A Guiné-Bissau foi em tempos o reino de Gabu, parte do Império do Mali, e partes do reino sobreviveram até ao século XVIII. Os rios da Guiné e as ilhas de Cabo Verde estiveram dentre as primeiras regiões da África a serem exploradas pelos portugueses.

Guerra civil e instabilidade política
Uma insurreição militar em junho de 1998, liderada pelo general Ansumane Mané, levou à deposição do presidente Vieira e a uma sangrenta guerra civil. Mais de 3 mil estrangeiros fogem do país. O conflito somente se encerrou em maio de 1999, quando Ansumane Mané entregou a presidência provisória do país ao líder do PAICG, Malam Bacai Sanhá, que convocou eleições gerais.
Em 2000 realizaram-se as eleições e Kumba Yalá, do Partido da Renovação Social (PRS), foi eleito, derrotando Sanhá com 72% dos votos. Yalá formou um governo de coalizão entre o PRS e a Resistência da Guiné-Bissau/Movimento Bafatá. Em novembro de 2000 Ansumane Mané foi morto por tropas oficiais em uma fracassada tentativa de golpe.

Em setembro de 2003 teve lugar um novo golpe encabeçado pelo general Veríssimo Correia Seabra, durante o qual os militares prenderam Kumba Yalá por ser "incapaz de resolver os problemas" do país. Henrique Rosa foi colocado como presidente provisório até novas eleições. Em março de 2004 o PAIGC venceu as eleições na Assembléia Nacional ficando com 45 das 100 cadeiras em disputa. O PRS, segundo mais votado, obteve 35 cadeiras. O líder do PAIGC, Carlos Gomes Júnior, foi indicado como primeiro-ministro.
Em outubro de 2005 João Bernardo Vieira foi releito ao cargo do Presidente da Guiné-Bissau.